sexta-feira, 22 de abril de 2011

MULHERES SEM ESPAÇO, AINDA


Ao longo do tempo, ao longo dos séculos, ao longo dos anos, pouco a pouco, muito timidamente, em alguns locais do planeta, soe-se dizer que as mulheres conquistaram a independência e o reconhecimento dos homens.

Será mesmo que aquela mulher que devia ser subjugada ao homem porque extraída da sua costela é vista, atualmente, como a parceira do homem?  Mulher, aquela que extraída da costela do homem deveria estar-lhe ao lado, lado a lado, em igual nível, justamente porque extraída da costela, da lateral do homem. Será mesmo?

Tradicionalmente, na Igreja e na sociedade colonial brasileira a mulher estava em terceiro plano, atrás mesmo das prestigiadas comadres. Na atual sociedade, os casamentos de alto padrão têm maior dificuldade em serem desfeitos por conta dos interesses familiares que sempre, e ainda, estão em jogo ou pelo fato dos homens não aceitarem a nova "liberdade" feminina.  Então,  para o homem o caminho é sempre livre, sejam solteiros, casados ou separados-divorciados. Para a mulher todos os empecilhos são justificáveis para impedir-lhe de recomeçar uma nova vida.

Se há décadas ou séculos (já...) a mulher sentava-se distante do homem na igreja, hoje, ainda que participe na liturgia, há momentos em que a igreja – alegoricamente, é claro – faz-nos relembrar a “inferioridade” da mulher.  Pelo menos é isto que me ocorre.

Ocorre-me pensar dessa maneira quando, adentrando-me em certa igreja, das mais visitadas e freqüentadas de Salvador, vejo os altares femininos faceando os masculinos e, vendo o lado do qual os escravos assistiam à missa, percebo grande diferença no que concerne a abordagem de gênero.

No pequeno espaço, lado masculino, a decoração chega a ser opressiva por conta do volume dos objetos escultóricos aí expostos.  No lado feminino, paredes vazias, um estrado de madeira, restos de um presépio, uma escada suja.  Enfim, depósito de materiais que poderiam estar estocados em outro ponto do imenso complexo eclesiástico (igreja e convento).

A limpeza do lado feminino, somente, já bastaria para prestigiar, também, a mulher porquanto trata-se de completar o lado feminino da igreja, vez que a discrepância com o lado oposto chega a ser chocante. 

Prestigiaria a igreja, tão bela e tão rica, com um “detalhe’” tão decadente, e, finalmente, prestigiaria a Igreja, já que a mulher, igualmente, é Criação do Senhor e, porquanto descendente de Eva, é tão pecadora quanto o próprio Adão do qual o gênero masculino é originário.

Silvia Vannucci Chiappori
22.04.2011

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