segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

BAIANAS RETIRADAS DA ORLA


Transito a pé pela Av. Sete tentando atravessar pela algazarra de ambulantes, buzinas e outros tons musicais os mais diversos, transeuntes, potenciais compradores discutindo preços e um sem número de objetos expostos por superar. 

Repentinamente, a voz de um locutor anuncia “Baianas serão retiradas da Orla”.

Instantaneamente, ao meu lado um “nego baiano”, vestindo calça preta e camisa branca, estilo “no stress bem apessoado”, aparentemente com o cérebro bem em cima, ou seja, lúcido, abre o vozão, bem tranquilão e brada: “Tomara que as baianas se juntem e façam um bozó tamanho de um boi para ele”.

--Ele quem?, pergunto-lhe.
--Ora, o Prefeito João Henrique.  Tudo que não é da religião dele ele vai destruir, profetiza o bom baiano.
--O Sr. é do Candomblé?, pergunto surpreendida.
--Eu não, sou Católico!, enfatiza ele.

Que religião?!, conjecturo continuando minha caminhada. Desde quando a Baiana do Acarajé tem a ver com a religião? Baianas são quituteiras cujas origens enraízam-se no Benim. Baianas são mulheres trabalhadoras que dão um duro legal preparando os quitutes e a massa para a fritura.

Diuturnamente, instalam-se nas praças, nas ruas e nas praias onde já têm uma clientela fiel.  Driblando e goleando o “Mac Donald”, elas conseguiram sobreviver firmes e fortes, na tradição do acarajé, do abará, do bolinho de estudante, das cocadas, do peixe frito, do baço frito e outros, até os dias de hoje.  Logo, elas representam a tradição, a baianidade.

Qual o baiano que não come pelo menos um acarajé, por semana?! Este hábito, sim, é uma religião. O degustar da boa cozinha baiana.

Que religião?! Seguramente, a mesma que fez com que a Secretaria Municipal de Saúde, na semana passada, sem nenhum critério técnico, cortasse parte do leite especial para cerca de 100 crianças alergênicas, ou seja, crianças que possuem um organismo que não consegue absorver os nutrientes do leite materno e sofre com alergia ao de vaca que causa inflamação do intestino.  Por conseguinte, o organismo não absorve os nutrientes devido à inflamação no intestino”.  Segundo a presidente da Associação Baiana de Pais e Amigos de Crianças com Alergia Alimentar (Abappa), a fisioterapeuta Bianca Gouveia, desde que começou a distribuição, em 2004, há cortes na época do Carnaval.” (Correio da Bahia, 16.02.2011. Também noticiado pela Globo.).

Que religião?! A mesma que está a exigir a retirada das plantas e vasos de plantas que decoram o Centro Histórico? A mesma que destrói a natureza viva e ornamental do Centro Histórico e, igualmente, destrói os coqueirais e bosques permitindo a construção de complexos de edificações seja no centro da cidade, seja na Orla? 

Que religião?! A mesma que mantém o Centro Histórico muito sujo e degradado? Por que nos bairros há “Cenourinhas” e os mesmos não são vistos no Centro Histórico?  Será, mesmo, tarefa dos mendigos limpar toda a sorte de dejetos que enfeitam e perfumam as ruas do Patrimônio da Humanidade? Alguém se lembra dos caminhões-pipas que, periodicamente, lavavam essas ruas?

Que religião?! A mesma que fez com que, na candidatura ao primeiro turno, fosse prometido o impossível aos barraqueiros? Será que essa religião permite “destruir um Santo para cobrir outro”?  Pois, dizem, a retirada das Baianas do Acarajé da Orla preencheria um nicho da já magra atual retirada dos ex-barraqueiros da Orla.  São as Baianas do Acarajé quem indenizarão por impossíveis, ilegais e, absolutamente, impraticáveis promessas de campanha?


Silvia Vannucci Chiappori
21.02.2011





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